quarta-feira, 17 de novembro de 2021

34 de março. Fevereiro, 349

Não, eu já não tenho forças para aguentar. Oh, Deus! O que eles estão fazendo comigo? Eles jogam água gelada na minha cabeça. Eles não se importam comigo e parecem não me ver ou ouvir. Por que eles me torturam? O que eles querem de alguém arruinado como eu? O que posso dar-lhes? Eu não possuo nada. Eu não consigo suportar as torturas; minha cabeça dói como se tudo estivesse girando ao meu redor. Salvem-me! Levem-me embora! Deem-me três montarias rápidas como o vento! Prepare a carruagem, cocheiro, toque os sinos, galope os cavalos e me carregue embora deste mundo. Para longe, sempre para longe, até não haver mais o que ver!
Ah! Os céus já se curvam sobre mim; uma estrela brilha distante; a floresta passa por nós com suas árvores escuras à luz da Lua; Uma névoa azulada flutua sob meus pés; música toca nas nuvens; de um lado está o mar, do outro, a Itália; além, eu vejo as casas dos camponeses russos. Não é a casa dos meus pais ali na distância? Não é a minha mãe sentada à janela? Oh mãe, mãe, salve seu infeliz filho! Deixe uma lágrima escorrer em sua cabeça machucada! Veja como eles o torturam! Segure este pobre órfão em seu colo! Ele não tem trégua neste mundo; eles o caçam em todos os lugares.
Mãe, mãe, tenha dó de seu filho doente! E você sabia que o Sultão da Algéria tem uma verruga sob seu nariz?

Nikolai Gogol, in Diário de um louco

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