Ao nascer do sol, o crepúsculo caiu
sobre a Terra.
Sob o crepúsculo, o sinal das 18 horas
comanda solenemente o coração da sua nação de um milhão de
cidadãos.
— Oh, já são 18 horas!
— Hora do banho de música das 18
horas.
— Vamos lá, pessoal, e sentem-se
rápido. Não se atrasem!
No setor Alishia, havia apenas três
pessoas: o professor Kohak e os estudantes da faculdade Penn e Bara.
Eles abriram a porta e correram pelo corredor azul um instante antes
de ouvir o sinal.
No corredor, havia uma fileira de
assentos feitos de um grosso metal prateado, torcido em espiral.
Cada um pulou em uma cadeira, onde estava
escrito seu nome. Três janelas amarelas com formato circular se
abriram no telhado e liberaram borrifos de um líquido amarelo nas
pessoas abaixo. Maravilhosos e refrescantes borrifos.
Os três esperaram em silêncio pelo
início do banho de música.
O professor Kohak era um homem de
meia-idade. Ele estava vestido com roupas pretas, da mesma cor do seu
longo cabelo, penteado para trás e bagunçado como se ele houvesse
arrumado às pressas com as mãos. Uma compleição esguia completava
sua estatura acima da média. Sua aparência possuía um toque de
graciosidade e passava ao mesmo tempo a impressão de uma paixão
contida mas vigorosa, por trás da sua pele um pouco pálida. Com os
cotovelos descansando nos joelhos, o professor sentou-se
profundamente na cadeira espiral, como se estivesse imerso em
pensamentos. Às vezes, suas pálpebras se moviam com o movimento dos
olhos abaixo, talvez por estarem se contorcendo em agonia.
Penn era jovem, tinha quase a mesma idade
de Bara. Com cuidado para evitar ser pego, ele esticou sua mão em
direção à Bara, sentada ao seu lado, e encostou em suas nádegas.
Plaft.
A reprimenda de Bara não precisou de
palavras, ela apenas estapeou a mão que a tocara.
As costas da mão de Penn ficaram
vermelhas e inchadas. Mas, mesmo assim, continuou a tentar seduzi-la.
— Apenas mais duas horas — Bara
gesticulou suavemente com a mão.
Mas a mão de Penn insistiu.
— Eu posso já ter partido daqui a duas
horas. Então por favor, querida, apenas um pouco…
— Shh! O sinal de aviso já foi dado.
Uma voz irrompeu dos alto-falantes: “Está
faltando alguém do setor Alishiro.”
Como se fosse ensaiado, todos olharam à
direita, na direção do setor Alishiro. No mesmo momento, a porta se
abriu e um homem se lançou pelo corredor. Em uma confusão, ele
pulou como um sapo em seu assento.
— Oh, é o Paul — Penn disse com um
engasgo.
— Aquele porco deve estar fazendo
dissecações em si mesmo de novo. Que homem indecente! — Bara
disse e cuspiu, com nojo.
Uma luz roxa inundou o corredor.
Lentamente, professor Kohak ergueu sua
cabeça.
— Certo, o banho de música está
começando, levantem as mãos — o professor aconselhou seus dois
alunos.
Logo que os três pares de mãos se
levantaram, a música começou: o som quase inaudível emanou de
algum lugar profundo da Terra, como um gemido.
— Maldita sinfonia 39, sugadora de
almas! — Penn praguejou para si mesmo.
Transmitida através das cadeiras
espirais, a Melodia Nacional n. 39 se intensificou aos poucos. O
professor mantinha um olhar fixo e vazio; os olhos de Bara estavam
fechados, seus lábios tremiam; Penn rangeu os dentes e sua testa
suava muito.
A Melodia Nacional progrediu devagar,
cozinhando os sistemas cerebrais dos cidadãos como um vapor
escaldante. Gemidos semelhantes aos de bestas selvagens emergiram de
vários lugares do longo corredor tingido de roxo, as paredes
reverberaram de modo violento como se fossem atingidas por um canhão.
Presenciem o purgatório roxo!
O banho de música perseverou entre as
vozes lamuriosas dos cidadãos. Trinta minutos depois, os raios de
luz roxa começaram a se enfraquecer aos poucos, até que, no fim, um
refrescante borrifo foi liberado das janelas circulares e desceu
sobre as cabeças deles, assim como no início.
O banho de música chegou ao fim.
Como que despertados de um pesadelo, os
cidadãos sentados nas cadeiras espirais espiaram o telhado e olharam
vagamente ao redor.
— Ugh… O banho de música acabou.
— Ok, vamos embora daqui. Tem um monte
de trabalho nos esperando na oficina.
— Sim, temos que compensar por aquela
falta de ontem.
Os cidadãos, transbordando de energia,
pularam para fora das suas cadeiras espirais. Com disposição e
ânimo renovados, como costumava ser após cada banho musical, Penn e
Bara seguiram o vívido professor Kohak e retornaram ao setor
Alishia.
Juza Unno, in A última transmissão
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