quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O banho de música das 18 horas | Capítulo 1


Ao nascer do sol, o crepúsculo caiu sobre a Terra.
Sob o crepúsculo, o sinal das 18 horas comanda solenemente o coração da sua nação de um milhão de cidadãos.
Oh, já são 18 horas!
Hora do banho de música das 18 horas.
Vamos lá, pessoal, e sentem-se rápido. Não se atrasem!
No setor Alishia, havia apenas três pessoas: o professor Kohak e os estudantes da faculdade Penn e Bara. Eles abriram a porta e correram pelo corredor azul um instante antes de ouvir o sinal.
No corredor, havia uma fileira de assentos feitos de um grosso metal prateado, torcido em espiral.
Cada um pulou em uma cadeira, onde estava escrito seu nome. Três janelas amarelas com formato circular se abriram no telhado e liberaram borrifos de um líquido amarelo nas pessoas abaixo. Maravilhosos e refrescantes borrifos.
Os três esperaram em silêncio pelo início do banho de música.
O professor Kohak era um homem de meia-idade. Ele estava vestido com roupas pretas, da mesma cor do seu longo cabelo, penteado para trás e bagunçado como se ele houvesse arrumado às pressas com as mãos. Uma compleição esguia completava sua estatura acima da média. Sua aparência possuía um toque de graciosidade e passava ao mesmo tempo a impressão de uma paixão contida mas vigorosa, por trás da sua pele um pouco pálida. Com os cotovelos descansando nos joelhos, o professor sentou-se profundamente na cadeira espiral, como se estivesse imerso em pensamentos. Às vezes, suas pálpebras se moviam com o movimento dos olhos abaixo, talvez por estarem se contorcendo em agonia.
Penn era jovem, tinha quase a mesma idade de Bara. Com cuidado para evitar ser pego, ele esticou sua mão em direção à Bara, sentada ao seu lado, e encostou em suas nádegas.
Plaft.
A reprimenda de Bara não precisou de palavras, ela apenas estapeou a mão que a tocara.
As costas da mão de Penn ficaram vermelhas e inchadas. Mas, mesmo assim, continuou a tentar seduzi-la.
Apenas mais duas horas — Bara gesticulou suavemente com a mão.
Mas a mão de Penn insistiu.
Eu posso já ter partido daqui a duas horas. Então por favor, querida, apenas um pouco…
Shh! O sinal de aviso já foi dado.
Uma voz irrompeu dos alto-falantes: “Está faltando alguém do setor Alishiro.”
Como se fosse ensaiado, todos olharam à direita, na direção do setor Alishiro. No mesmo momento, a porta se abriu e um homem se lançou pelo corredor. Em uma confusão, ele pulou como um sapo em seu assento.
Oh, é o Paul — Penn disse com um engasgo.
Aquele porco deve estar fazendo dissecações em si mesmo de novo. Que homem indecente! — Bara disse e cuspiu, com nojo.
Uma luz roxa inundou o corredor.
Lentamente, professor Kohak ergueu sua cabeça.
Certo, o banho de música está começando, levantem as mãos — o professor aconselhou seus dois alunos.
Logo que os três pares de mãos se levantaram, a música começou: o som quase inaudível emanou de algum lugar profundo da Terra, como um gemido.
Maldita sinfonia 39, sugadora de almas! — Penn praguejou para si mesmo.
Transmitida através das cadeiras espirais, a Melodia Nacional n. 39 se intensificou aos poucos. O professor mantinha um olhar fixo e vazio; os olhos de Bara estavam fechados, seus lábios tremiam; Penn rangeu os dentes e sua testa suava muito.
A Melodia Nacional progrediu devagar, cozinhando os sistemas cerebrais dos cidadãos como um vapor escaldante. Gemidos semelhantes aos de bestas selvagens emergiram de vários lugares do longo corredor tingido de roxo, as paredes reverberaram de modo violento como se fossem atingidas por um canhão.
Presenciem o purgatório roxo!
O banho de música perseverou entre as vozes lamuriosas dos cidadãos. Trinta minutos depois, os raios de luz roxa começaram a se enfraquecer aos poucos, até que, no fim, um refrescante borrifo foi liberado das janelas circulares e desceu sobre as cabeças deles, assim como no início.
O banho de música chegou ao fim.
Como que despertados de um pesadelo, os cidadãos sentados nas cadeiras espirais espiaram o telhado e olharam vagamente ao redor.
Ugh… O banho de música acabou.
Ok, vamos embora daqui. Tem um monte de trabalho nos esperando na oficina.
Sim, temos que compensar por aquela falta de ontem.
Os cidadãos, transbordando de energia, pularam para fora das suas cadeiras espirais. Com disposição e ânimo renovados, como costumava ser após cada banho musical, Penn e Bara seguiram o vívido professor Kohak e retornaram ao setor Alishia.

Juza Unno, in A última transmissão

Nenhum comentário:

Postar um comentário