domingo, 18 de julho de 2021

O coelho

O coelho queria crescer.
Deus prometeu-lhe que aumentaria seu tamanho se ele trouxesse uma pele de tigre, uma de macaco, uma de lagarto e uma de serpente.
O coelho foi visitar o tigre.
Deus me contou um segredo – comentou, confidencial.
O tigre quis saber e o coelho anunciou um furacão que vinha vindo.
Eu me salvarei, porque sou pequeno. Me esconderei em algum buraco. Mas você, o que fará? O furacão não vai perdoar você.
Uma lágrima rodou pelos bigodes do tigre.
Só me ocorre uma maneira de salvar você – ofereceu o coelho. – Buscaremos uma árvore de tronco muito forte. Eu te amarro no tronco pelo pescoço e pelas mãos, e o furacão não te leva.
Agradecido, o tigre deixou-se amarrar. Então o coelho matou-o de uma paulada, e o despiu.
E continuou seu caminho, bosque adentro, pela comarca dos zapotecas.
Parou debaixo de uma árvore onde um macaco estava comendo. Tomando uma faca do lado em que não tem corte, o coelho começou a bater com ela no pescoço. A cada batida, uma gargalhada. Depois de muito bater e muito rir, deixou a faca no chão e se retirou aos pulinhos.
Escondeu-se entre os galhos, na espreita. O macaco não demorou em descer. Olhou essa coisa que fazia rir e coçou a cabeça. Agarrou a faca e ao primeiro golpe caiu degolado.
Faltavam duas peles. O coelho convidou o lagarto para jogar bola. A bola era de pedra: bateu no nascimento do rabo do lagarto e deixou-o esticado.
Perto da serpente, o coelho fez que dormia. Antes que ela saltasse, quando estava tomando impulso, de repente cravou-lhe as unhas nos olhos.
Chegou ao céu com as quatro peles.
Agora, me faz crescer – exigiu.
E Deus pensou: “Sendo tão pequenino, o coelho fez o que fez. Se aumento seu tamanho, o que não fará? Se o coelho fosse grande, talvez eu não fosse Deus”.
O coelho esperava. Deus aproximou-se suavemente, acariciou seu lombo e de repente agarrou-o pelas orelhas, deu um par de voltas com ele no ar e atirou-o à terra.
Por isso ficaram longas as orelhas do coelho, curtas as patas dianteiras, que ele estendeu para aparar a queda, e vermelhos os seus olhos, por causa do pânico.

Eduardo Galeano, in Os Nascimentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário