Mário Quintana escreveu “Todos esses
que aí estão/ Atravancando o meu caminho,/ Eles passarão.../ Eu
passarinho!”. Elton John cantou “I’m still standing, better
than I ever did”. Jessie J perguntou “Who’s laughing now?”.
Chico Buarque completou “Olhos nos olhos, quero ver o que você
diz, quero ver como suporta me ver tão feliz”.
Seja como for, ao longo do caminho são
muitas as tentativas de nos fazer parar. De nos fazer deixar de
acreditar e não ir adiante. Há, de fato, uma estranha espécie
humana que associa as conquistas alheias aos próprios fracassos,
ainda que não haja qualquer remota ligação entre as duas coisas.
Mas este texto não é para falar sobre
elas. É para falar sobre nós. Nós que aguentamos firme, que
deixamos as coisas entrarem por um ouvido e saírem pelo outro porque
estávamos ocupados demais trabalhando e construindo a nossa estrada.
Este texto é nosso, não é deles.
Este texto é apenas para celebrar a
garra, a honestidade e a luta. E para dizer: I’M STILL STANDING.
Sim, estamos de pé, apesar das pedradas e das puxadas de tapete.
Mais especificamente: estamos de pé, o sol bate no nosso rosto,
nossas músicas preferidas sempre tocam quando ligamos o rádio e
dormimos noites incríveis com a cabeça leve no travesseiro.
Disseram-nos, nos tempos de escola, que
não éramos bonitos o bastante. Que não jogávamos bola bem o
bastante. Disseram-nos que não entraríamos naquela faculdade, nem
conquistaríamos aquela vaga de emprego. Que as nossas táticas não
eram as melhores, que precisávamos ter mais malandragem, mais
malícia. Nunca tivemos. E olha só onde viemos parar.
Muitos de nós foram sacaneados por
acreditar. Tomaram um pé na bunda. Ou dois. Ou três. Outros foram
traídos. Dividimos cama com outros casos. Mas sempre saímos pela
porta da frente. Fomos criados assim. Talvez nunca tenhamos sido os
mais espertos, mas certamente sempre fomos os mais honestos. E,
curiosamente, a vida tende a nos recompensar por isso.
Cochicharam enquanto passávamos pelo
corredor. Disseram que nunca ocuparíamos aquele lugar. E no dia em
que ocupamos, disseram que duraria pouco. E durou muito. Disseram que
não merecíamos. Enquanto isso nós trabalhávamos, honrando cada
segundo do que conquistamos.
Disseram que éramos bobos demais.
Sorridentes demais. Pretos demais. Gordos demais. Mulheres demais.
Lentos demais. Novos demais. Velhos demais. Sonhadores demais. Que
nossos projetos eram otimistas demais. Disseram que tínhamos fé
demais. Bom, devemos informar que luta e fé nunca existem em doses
excessivas e nós somos resultado disso.
Os que não encontram nenhum sentido
neste texto curiosamente tendem a ser os que cochicham a nosso
respeito nos corredores. Permitam-me um conselho: saiam dessa vida.
Sejam maiores do que isso.
Porque, sabe? Nós abandonamos
relacionamentos abusivos, nós largamos empregos infelizes, nós
perdoamos, nós começamos tudo de novo, nós mudamos de carreira,
nós acreditamos na vida e, acima de tudo, nós seguimos sendo estes
ingênuos para os quais vocês tiveram que aprender a olhar com algum
respeito. Tempo, tempo, tempo, tempo, és um senhor tão bonito.
Ruth Manus, in Um dia ainda vamos rir de tudo isso
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