domingo, 25 de abril de 2021

Poesia

           Era um poeminha antigo de João Alphonsus:


O diabo é que a vida
Nem sempre, porém...
Toada da onda
Que vai e que vem
Da onda daonde?
Até nem sei bem...
Ora bolas! Da onda
Que vai e que vem.

O rapaz leu e achou engraçado: “como é que um sujeito pode fazer um poema sem dizer nada, mas nada mesmo?”
Eu fiquei calado.
Ficava difícil explicar que o poeta dissera muita coisa, que a vida é assim mesmo, que a vida tem essa toada da onda... Da onda daonde?

Rubem Braga, in Recado de primavera

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