as cores continuam se desatando em nuvens
se fecho os olhos.
Cavo um túnel, não durmo,
esgoto ou escada qualquer intestino
que me leve
à tua infância ao grito
à água parada do teu pesadelo para quebrar a noite
ao meio
para fugirmos. Sem poder caminhar sobre a água,
levanto esta ponte; mas sei que o certo era
caminhar sobre
o teu coração e
— milagre — de repente
afundar.
Deste ponto, posso avistar o verão de um ano atrás,
ou dois, parece ontem, que entranhou nos teus cabelos
ainda úmidos da chuva pesada
de perfumes. Queria, daqui
do alto, poder tocar o sábado daqueles dias
sem soldados. No aço
apressado e sujo que vai em retalhos
iguais cortando horas semanas, vejo
refletir-se
em pleno salto o fogo o tigre
o louva-a-deus da tua juventude;
não sei de onde vem
e o seu destino,
mas há tempo para que eu me ponha na ponta, nos ombros,
nos escombros de uma velha torre
e assista ao percurso do teu sorriso, nítido,
que logo se confunde com a luz, última visão antes de a noite
cair.
Eucanaã Ferraz
Nenhum comentário:
Postar um comentário