voltou da guerra.
Abraçou-nos
longamente, um por um.
Era uma chegada,
mas ele se despedia.
Às boas-vindas, retorquiu:
— Deixei de ser gente,
como posso ter casa?
Toda a noite,
escutei o seu pranto.
Nas outras noites,
o mesmo choro se desenrolou.
Minha mãe, vaticinou:
só um ausente
pode ser assim plangente.
Sei dessa ausência, disse ela.
Toda a mãe,
em cada filho,
dá à luz a eternidade.
Internaram Mauro.
Doía-lhe a Vida
como certeira bala,
doía-lhe a noite
como corpo deixado na trincheira.
Urgia desarmar-lhe os mortos,
deitá-lo num sono muito branco
até que, por fim,
entre trevas ele a si regressasse.
Mas a morte,
e tanta morte houve,
não fora apenas em falso: fora falsa.
Afinal,
só mata quem já está morto.
A guerra fora-se,
ajoelharam-se os exércitos.
Mas por mais que a farda despisse,
por muito que a arma depusesse:
o primo Mauro
nunca mais deixava de ser soldado.
Dentro do guerreiro
vivia, eterna, a guerra.
O inferno,
mesmo o mais pequeno,
é, sempre, para sempre.
Hoje,
envergando uniforme,
me despeço dos meus.
Abraço-os, um por um.
E prometo voltar.
Mia Couto
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