Solange, a namorada. Todas as moças
perdiam para Solange. Nenhuma podia competir com ela em matéria de
namoro. Os rapazes da cidade só alimentavam uma aspiração: que
Solange olhasse para eles. Desdenhavam todas as outras, ainda que
fossem lindas, cheias de graça e boas de namorar. Namorar Solange,
merecer o favor de seus olhos: que mais desejar na vida?
A nenhum deles Solange namorava. Era uma
torre, um silêncio, um abismo, uma nuvem. Sua família inquietava-se
com isto e pedia-lhe que pelo amor de Deus escolhesse um rapaz e
namorasse. O vigário exortou-a nesse sentido. O prefeito apelou para
os seus bons sentimentos. Ninguém mais casava, a legião de tias era
assustadora. Temia-se pela ordem social.
O desaparecimento de Solange até hoje
não foi explicado, mas dizem que em carta endereçada à família
ela declarou que, para ser a namorada em potencial de todos, não
podia ser namorada de um só, mesmo que sucessivamente trocasse de
namorado. Estava certa de que exercia uma função de sonho, que a
todos beneficiava. Mas se não era assim, e ninguém compreendia sua
doação ideal a todos os moços, ela decidira sumir para sempre, e
adeus.
Adeus? Ignora-se para onde foi Solange,
mas aí é que se converteu em mito supremo, e nunca mais ninguém
namorou na cidade. As moças envelheceram e morreram, a igreja fechou
as portas, o comércio definhou e acabou, as casas tombaram em
ruínas, tudo lá ficou uma tapera.
Carlos Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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