quinta-feira, 12 de novembro de 2020

O gramático arrependido

      Vivia na cidade de Sijistán um senhor que estudava gramática. Certo dia, ele disse ao filho:
Sempre que você quiser falar alguma coisa, consulte antes a sua inteligência, pense a respeito com muito cuidado a fim de retificar a frase e somente então pronuncie as palavras, corretas e muito bem medidas.
Então, certo dia de inverno, enquanto ambos estavam sentados juntos diante de uma fogueira crepitante, uma brasa caiu no manto de seda com o qual o pai se cobria; ele estava distraído, mas o filho, que viu o ocorrido, calou- -se por alguns instantes, pensativo, e depois disse:
Papai, quero dizer uma coisa; o senhor me autoriza?
O pai respondeu:
Se for verdade, fale.
O filho disse:
Creio que seja verdade.
O pai disse:
Fale.
O menino disse:
Vejo algo vermelho.
O pai perguntou:
O que é?
O menino respondeu:
Uma brasa que caiu em seu manto!
Então o pai olhou para o manto, do qual uma parte já se queimara. Perguntou ao filho:
E por que não me falou depressa?
O menino respondeu:
Refleti a respeito como o senhor ordenou, em seguida retifiquei as palavras, e só então as pronunciei!
O pai jurou solenemente que nunca mais falaria sobre gramática.

Mamede Mustafa Jarouche (trad.), in Histórias para ler sem pressa

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