Em seu caminho para Meca, um peregrino
passou por Bagdá, e ali, com muito esforço, tentou vender um colar
seu que valia mil moedas de ouro. Não tendo encontrado comprador,
foi até um perfumista de quem diziam ser um homem de bem e com ele
deixou o colar. Então fez a peregrinação a Meca e retornou. Com um
presente, foi até o perfumista, que lhe perguntou:
— Quem é você? E o que é isso?
Ele respondeu:
— Sou o dono do colar deixado com você.
O peregrino nem bem terminou de falar e o
perfumista lhe deu um pontapé que o atirou para fora da loja e lhe
disse:
— Como você faz semelhante alegação
contra mim?
As pessoas se aglomeraram por ali e
disseram ao peregrino:
— Ai de ti! Este é um homem de bem!
Você não encontrou outra pessoa contra a qual fazer alegações?
Perplexo, o homem insistiu em falar com o
perfumista, que não fez senão aumentar as ofensas e agressões.
Disseram-lhe então:
— Seria bom que você fosse ao sultão
‘Ûdud Addawla. Ele tem bons métodos para resolver estas coisas.
O peregrino escreveu a história e foi
levar o papel a ‘Ûdud Addawla. Ao lê-lo, o sultão gritou
chamando-o, e o peregrino se apresentou. Perguntou sobre o que
ocorrera, e o peregrino lhe relatou o caso. ‘Ûdud Addawla disse:
— Vá até o perfumista amanhã pela
manhã e sente-se no banco diante de sua loja. Se ele expulsá-lo,
sente-se no banco do outro lado da rua, e ali permaneça desde o
amanhecer até o entardecer. Não lhe dirija a palavra. Repita essa
ação por três dias. No quarto dia, eu passarei por ali, pararei e
cumprimentarei você. Não fique de pé para mim nem faça mais do
que responder à minha saudação e às perguntas que eu lhe dirigir.
E assim o peregrino foi até o
perfumista, que o impediu de sentar-se no banco em frente da loja.
Durante os três dias seguintes, ele se sentou no banco do outro lado
da rua. No quarto dia, ‘Ûdud Addawla passou por ali com seu
magnífico cortejo e, ao avistar o peregrino, parou e disse:
— Que a paz esteja convosco!
Sem se movimentar, o peregrino respondeu:
— Convosco esteja a paz!
‘Ûdud Addawla perguntou:
— Meu irmão, você vem até Bagdá e
não vai nos visitar nem nos dizer quais são as suas necessidades?
O peregrino respondeu:
— Assim foi!
E não esticou a conversa, por mais que o
sultão perguntasse e demonstrasse preocupação. Ele parara, e com
ele todos os soldados do seu cortejo. O perfumista quase desmaiou de
medo. Quando o cortejo se retirou, o perfumista se voltou para o
peregrino e perguntou:
— Ai de ti! Quando você deixou o colar
comigo? Em que estava enrolado? Ajude-me a recordar, quem sabe assim
eu me lembro!
O peregrino disse:
— As características do colar eram
tais e tais.
O perfumista começou a vasculhar tudo.
Esbarrou em uma jarra que havia na loja e o colar caiu de cima dela.
Então ele disse:
— Eu tinha me esquecido. E se agora
você não me tivesse feito recordar, eu não teria lembrado!
Mamede Mustafa Jarouche, in Histórias para ler sem pressa
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