Entrei num restaurante com uma amiga e
logo deparei com Carlinhos de Oliveira, o que me deu alegria. Olhei
depois em torno. E quem é que eu vejo? Chico Buarque de Holanda. Eu
disse para Carlinhos: quando meus filhos souberem que eu o vi, vão
me respeitar mais. Então Carlinhos, que se sentara na nossa mesa,
gritou: Chico! Ele veio, fui apresentada. Para a minha surpresa, ele
disse: e eu que estive lendo você ontem!
Chico é lindo e é tímido, e é triste.
Ah, como eu gostaria de dizer-lhe alguma coisa – o quê? – que
diminuísse a sua tristeza.
Contei a meus dois filhos com quem eu
estivera. E eles, se não me respeitam mais, ficaram boquiabertos.
Então eu tive uma ideia e não sei se
ela irá adiante; se for, contarei a vocês. Era chamar Chico e
Carlinhos para me visitar em casa. Eu os verei de novo, e sobretudo
meus filhos os verão. Falei dessa ideia e um de meus filhos disse
que não queria. Perguntei por quê. Respondeu: porque ele é uma
personalidade. Eu lhe disse: mas você também é, aos sete anos de
idade ouvia tudo de Beethoven que tínhamos e pedia mais, tanto
gostava e sentia e entendia.
Mas quero respeitar meu filho. Disse-lhe:
se eu convidar Chico, se ele vier, você só aperta a mão dele e, se
quiser, sai da sala.
Também achei Carlinhos triste.
Perguntei: por que estamos tão tristes? Respondeu: é assim mesmo.
É assim mesmo.
Clarice Lispector, in Todas as crônicas
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