sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Linha do tiro

Não quero.
Hã?
Já disse que não quero.
O quê?
Chocolate.
Chocolate?
Você quer me vender chocolate, não é?
Que chocolate, minha senhora?!!
Bala-chiclete?
Não, porra!
O senhor é Hare Krishna, não é?
Hã?
Da Igreja Amanhecer em Cristo, essas coisas?
Não!
É cego?
Cego?
Tá com uma ferida e quer comprar remédio?
Chega, caralho!
O quê?
Isto é um assalto, não tá vendo?
Onde?
Aqui dentro do ônibus.
E por que você não faz alguma coisa?
Eu?
Chama a polícia?
Essa velha é doida!
Quem é doida?
Chapadona! Passa logo a bolsa.
Não falei?
O dinheiro, minha senhora.
Não quero.
Hã?
Já disse que não quero.
O quê?
Chocolate.
Chocolate?
Chega, caralho!
O quê?
Isto é um assalto, não tá vendo?
Onde?
Aqui dentro do ônibus.
E por que você não faz alguma coisa?
Eu?
Chama a polícia?
Essa velha é doida!
Quem é doida?
Chapadona! Passa logo a bolsa.
Não falei?
O dinheiro, minha senhora.
Não quero.
Hã?
Já disse que não quero.
O quê?
Chocolate.
Chocolate?
Essa velha é doida!
Quem é doida?
Chapadona! Passa logo a bolsa.
Não falei?
O dinheiro, minha senhora.
Não quero.
Hã?
Já disse que não quero.
O quê?
Chocolate.
Chocolate?
Você quer me vender chocolate, não é?
Que chocolate, minha senhora?!!
Bala-chiclete?
Marcelino Freire, in Contos Negreiros

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