domingo, 6 de setembro de 2020

Alemães vão à guerra

Alô, Johann. Johann. Como as negrras do Nepal, tem. Das Ilhas Virrgens também. É só irr. Feito as mocinhas da Guiana. Da prraia do Pina, depois do hotel, é só irr. Prreparra a mala, Johann. Deixa a mala prronta.
É só vestirr o calçoão e a filmadorra. Darr uma piscadela boa. À vista o Redentorr. O marr de Copacabana. Alô, Johann. É só irr, Johann. Alô, Johann. Johann, irr.
Nosso dinheirro salvarria, porr exemplo, as negrrinhas do Haiti. Barratas como as negrras de Burrundi. Trouxe uma parra aqui, lembrra? Faz tempo que eu trouxe uma parra aqui.
Ajudei a prreserrvarr, no meu pescoço os den t es de marrfim. Hoje, ela ganha ensinando ao povarréu de Berrlim. Em Mönchengladbach, dança. Ganha a sorrte no samba.
A gente acaba dando educação a esse povo, Johann. E um pouco de esperrança. E herrança, Johann, como aquela que o nosso amigo deixou parra as crrianças.
O que serria dela sem mim, Johann, me diz. Eu é que noão quis mais aquela infeliz. Pulei forra, como os pobrres de Cuba. Abandonei o barrco. Nada mais de jet ski.
Você ri, Johann, você ri? É verrdade. Antes que ela me mandasse parra a Cochinchina. Nem sei se tem negrras na Cochinchina. Johann, alô. Alô, Johann. Se tiverr, eu vou.
Sei. Em todo canto tem. Júpiterr, Marrte. No burraco negrro, em toda parrte. Ainda bem. O mundo é dos negrros. Alô, Johann. Tem, sim, e estão nos esperrando.
Vamos? O que não podemos é ficarr neste clima. Orra, é só passarr prrotetorr. Quem manda serr muito brranco? Pensa, Johann. Salvadorr, Salvadorr.
O que não falta nesse mundo, Johann, é amorr.
Marcelino Freire, in Contos Negreiros

Nenhum comentário:

Postar um comentário