Surgiram
alguns licantropos na cidade, e a população corria deles. Não
corria tanto assim, pois os licantropos só apareciam noite alta. E
sempre nas sextas-feiras. De qualquer modo, notívagos eram
surpreendidos pelos licantropos, e não sentiam o menor prazer no
encontro. O resto da população, tentando dormir em seus quartos,
simplesmente sentia medo.
O
sábio professor Epaminondas Barzinsky debateu o assunto na Academia
de Ciências Sobrenaturais, advertindo que primeiro se devia apurar
se se tratava de licantropos propriamente ditos, ou de pessoas
afetadas de licantropia. Propôs que se nomeasse comissão para
investigar este ponto. Se ficasse comprovado que os licantropos eram
da primeira espécie, levaria o estudo às últimas consequências.
Ninguém
quis fazer parte da comissão, e o próprio Barzinsky pôs-se em
campo, no interesse da ciência. Uma semana depois, voltou à sede
social, requerendo reunião extraordinária para a meia-noite da
próxima sexta-feira. Combinado. Ao entrarem na sala à hora
aprazada, seus colegas viram que um licantropo ocupava a tribuna de
conferências. Saíram apressadamente, e nunca mais a Academia se
reuniu nem Barzinsky foi visto.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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