5.1
São pessoas estranhas. Reúnem-se em volta de um móvel
completamente desconhecido para mim e que assim descrevo: quatro
pedaços de madeira, circulares, lisos, verticais, com a altura de
mais ou menos um metro cada um, sustentando uma prancha plana,
horizontal.
5.2
Essa reunião é feita numa posição invulgar, onde os corpos são
auxiliados na sustentação por objetos que se amoldam a eles e que
me parecem feitos de madeira e couro.
5.3
Imagine, primeiro um homem de pé. Agora, tentem vê-lo com o corpo
dobrado na altura do joelho. Além dessa dobra haverá outra, na
parte baixa dupla. O homem fica disposto como um degrau de escada.
5.4
Para não cair, porque nessa ridícula posição não há nenhum
equilíbrio, o homem apoia seu corpo no dito objeto que tem uma
prancha vertical, uma prancha horizontal perpendicular ao meio, sendo
que a frente desta prancha é sustentada por dois pedaços de
madeira, quadrados.
5.5
As costas do homem se apoiam nesta prancha vertical, a parte dupla
baixa e parte das coxas se apoia na parte horizontal e as canelas
acompanham as madeiras quadradas de sustentação.
5.6
O que me deixou assombrado foi a flexibilidade dos corpos, pois, como
se sabe, é impossível ao ser humano dobrar pernas, braços e virar
a cabeça em várias direções.
4.1
Observando atentamente estas pessoas em torno da mesa, pude descobrir
que elas moviam a boca, emitindo sons e isto me deixou mais espantado
ainda, porque os humanos não emitem som algum, ao contrário das
girafas, que são faladoras e gritadeiras.
4.2
Ao mesmo tempo que produziam sons uns para os outros, numa espécie
singular de comunicação (e é sabido que a comunicação entre
humanos cessou há 50 anos, por total embotamento dos órgãos
vocais), estes homens colocavam dentro da boca porções de
substâncias que tinham aspecto variado. As consistências também
eram diferentes. Havia grãos brancos, soltos, grãos boiando num
líquido marrom, rodelas vermelhas com pontos amarelos, pedaços do
que me pareceu couro.
4.3
Com o auxílio de objetos que tenho agora em mãos, rotulados com
etiqueta para o devido exame em nossos laboratórios, aqueles seres
colocavam as substâncias na boca.
4.4
Qual a necessidade daqueles objetos, se as substâncias poderiam mais
facilmente serem levadas à boca utilizando-se apenas os dedos das
mãos?
4.5
O primeiro objeto tem 24 cm de comprimento. Uma parte é uma lâmina
de aço com um bordo cortante e outra parte é de madeira. O segundo
objeto é também de aço. Uma lâmina fina que se estende por 20 cm
e de repente se abre em quatro pontas. O terceiro objeto é composto
também de uma lâmina fina que numa das pontas é mais largo e
côncavo.
3.1
Estas substâncias eram colocadas em recipientes circulares, brancos,
feitos de matéria rígida. Levo exemplar para exame pelos nossos
cientistas.
3.2
Estes recipientes são de vários tamanhos. O que estranhei é que as
substâncias eram transferidas de recipientes de cor cinza,
brilhante, para estes brancos. Por que não usavam diretamente os
recipientes cinzas?
3.3
Finalmente, amostras das substâncias que as pessoas levavam à boca.
Como me pareciam orgânicas e sujeitas a perecibilidade congelei
todas. Qual a finalidade destas substâncias? Por que eram colocadas
na boca com tanto prazer?
Ignácio
de Loyola Brandão, in Cadeiras proibidas
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