terça-feira, 16 de junho de 2020

Anacreonte

Ieoana recita-me estrofes em grego moderno — demótike — língua que bem se aproxima do ronrom de um gato; daí, rir, chamarem-lhe também romaico. Perguntei o que aquilo. Anacreonte?
Nem não. São de amigo meu, cipriota, alfaiate em Istambul. Gosta de Anacreonte?
Ele está sempre a chamar a amada, ou o escravo, querendo vinho...
Ele, Anacreonte, mesmo, é quem nos serve o vinho. Se Você fosse Anacreonte, pediria que eu caminhasse descalça sobre pétalas de rosas, e depois me beijaria os pés...
E se...
Não, não; desculpe. Falo de versos, Você é Anacreonte?
Guimarães Rosa, in Ave, Palavra

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