Aí,
de repente, os meus olhos se abriram, e vi como nunca havia visto.
Senti que o tempo é apenas um fio. Nesse fio vão sendo enfiadas
todas as experiências de beleza e de amor por que passamos. Aquilo
que a memória amou fica eterno. Um pôr do sol, uma carta que
recebemos de um amigo, os campos de capim-gordura brilhando ao sol
nascente, o cheiro do jasmim, um único olhar de uma pessoa amada, a
sopa borbulhante sobre o fogão de lenha, as árvores de outono, o
banho de cachoeira, mãos que se seguram, o abraço de um filho:
houve muitos momentos de tanta beleza em minha vida que eu disse para
mim mesmo: “Valeu a pena eu haver vivido toda a minha vida só para
poder ter vivido esse momento. Há momentos efêmeros que justificam
toda uma vida”.
Rubem
Alves, in Do universo à jabuticaba
Nenhum comentário:
Postar um comentário