quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Minha alma

Nunca, minha alma, serás boa e simples e una e nua, mais evidente que o corpo que te envolve? Não gozarás jamais de uma disposição afetuosa e contente? Nunca estrás satisfeita, sem necessidades, ansiosa por nada nem desejosa de nada, seja animado ou desanimado, para desfrutar prazeres? Nem desejosa de mais tempo para desfrutar mais longamente, nem de outro local ou região, ou de clima agradável, ou de uma sociedade mais harmoniosa? E ficarás satisfeita com tua condição presente e feliz com tudo que te acontece presentemente e te persuadirás de que tudo vai bem para ti e te vem dos deuses, e irá bem, queiram eles o que quiserem e mandem eles o que mandarem para a preservação do ser perfeito, do bom, do justo, que gera tudo e mantém tudo unido e abrange e abraça tudo que dissolve para a gênese de outros entes semelhantes? Nunca serás capaz de viver em comunhão com os deuses e homens de tal forma que nem te queixes deles nem sejas acusada por eles?
Marco Aurélio, in Meditações

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