A
raposa vinha descendo do céu, quando os papagaios arrebentaram, a
bicadas, a corda pela qual ela deslizava.
A
raposa se espatifou contra os altos picos
da cordilheira dos Andes e, ao se espatifar, espalhou a quinua que
trazia na barriga, roubada dos festejos celestes.
Assim,
a comida dos deuses foi semeada no mundo.
Desde
aquela época, a quinua vive em terras muito altas, onde só ela é
capaz de aguentar a aridez e o frio.
O
mercado mundial jamais prestou a menor atenção a essa desprezível
comida de índio, até que se soube que o minúsculo grãozinho,
capaz de crescer onde nada cresce, é um alimento muito bom, não
engorda e evita algumas doenças. Em 1994, a quinua foi patenteada
por dois pesquisadores da Colorado State University (US Patent
5304718).
Desatou-se,
então, a fúria dos camponeses. Os patenteadores asseguraram que não
iam usar seu direito legal de proibir o cultivo, nem cobrar nada por
isso, mas os camponeses, indígenas bolivianos, responderam:
– Não
precisamos que venha nenhum professor dos Estados Unidos nos doar o
que é nosso.
Quatro
anos mais tarde, o escândalo universal obrigou a Colorado State
University a renunciar à patente.
Eduardo
Galeano
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