A
maior tristeza de Gregório era não entender a língua dos sapos
brasileiros, que ele sabia ser muito rica em expressões idiomáticas,
e particularmente aberta a efusões amorosas.
“Se
eu aprendesse um pouco das finezas da língua deles”, lastimava-se,
“seria o mais afortunado dos amantes, além de brilhar em
tertúlias, pelo pitoresco de minha conversa. Mas dos sapos sei quase
nada, e as mulheres não parecem dispostas a conceder-me seus favores
por esse mínimo que adquiri passando noites em claro à margem do
brejo.”
Um
sapo condoeu-se de sua ignorância específica, e prometeu dar-lhe
aulas intensivas por duas semanas, findas as quais Gregório se
tornaria conversador cintilante e conquistador irresistível.
Mas
o sapo não nascera para professor, e tudo se turvou na cabeça do
aluno, que aprendeu apenas a coaxar, sem modulação nem sintaxe.
Ganhou apelido de “Sapinho” porque era de porte reduzido.
Renunciou à convivência humana e foi morar em frente ao brejo. Numa
noite de luar, uma rã escutou sua algaravia, apaixonou-se por ele, e
foram viver juntos. Os sapos, indignados, mataram-no. A rã admite
que fez mal em se deixar seduzir por erros de linguagem: imaginara
estar ouvindo um português mavioso.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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