Agora,
que o senhor ouviu, perguntas faço. Por que foi que eu precisei de
encontrar aquele Menino? a dele? De Deus, do demo? Por duas, por uma,
isto que eu vivo pergunta de saber, nem o compadre meu Quelemém não
me ensina. E o que era que o pai dele tencionava? Na ocasião, idade
minha sendo aquela, não dei de mim esse indagado. Mire veja! um
rapazinho, no Nazaré, foi desfeiteado, e matou um homem. Matou,
correu em casa. Sabe o que o pai dele temperou? ― Filho, isso é a
tua maioridade. Na velhice, já tenho defesa, de quem me vingue...
Bolas, ora. Senhor vê, o senhor sabe. Sertão é o penal, criminal.
Sertão é onde homem tem de ter a dura nuca e mão quadrada. Mas,
onde é bobice a qualquer resposta, é aí que a pergunta se
pergunta. Por que foi que eu conheci aquele Menino? O senhor não
conheceu, compadre meu Quelemém não conheceu, milhões de milhares
de pessoas não conheceram. O senhor pense outra vez, repense o bem
pensado! para que foi que eu tive de atravessar o rio, defronte com o
Menino? O São Francisco cabe sempre aí, capaz, passa. O Chapadão é
em sobre longe, beira até Goiás, extrema. Os gerais desentendem de
tempo. Sonhação ― acho que eu tinha de aprender a estar alegre e
triste juntamente, depois, nas vezes em que no Menino pensava, eu
acho que. Mas, para que? por que? Eu estava no porto do de-Janeiro,
com minha capanguinha na mão, ajuntando esmolas para o Senhor
Bom-Jesus, no dever de pagar promessa feita por minha mãe, para me
sarar de uma doença grave. Deveras se vê que o viver da gente não
é tão cerzidinho assim? Artes que foi, que fico pensando! por aí,
Zé Bebelo um tanto sabia disso, mas sabia sem saber, e saber não
queria; como Medeiro Vaz, como Joca Ramiro; como compadre meu
Quelemém, que viaja diverso caminhar. Ao que? Não me dê, dês.
Mais hoje, mais amanhã, quer ver que o senhor põe uma resposta.
Assim, o senhor já me compraz. Agora, pelo jeito de ficar calado
alto, eu vejo que o senhor me divulga.
Guimarães
Rosa, in Grande sertão: veredas
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