Procópio
acordava cedinho, abria a janela, exclamava:
— Que
dia maravilhoso! O dia mais belo da minha vida!
Às
vezes, realmente, a manhã estava lindíssima, porém outras vezes a
natureza mostrava-se carrancuda. Procópio nem reparava. Sua
exclamação podia variar de forma, conservando a essência:
— Estupendo!
Sol glorioso! Delícia de vida!
Choveu
o mês inteiro e Procópio saudou as trinta e uma cordas-d’água
com a jovialidade de sempre. Para ele não havia mau tempo.
A
família protestava contra a sua disposição fagueira e inalterável.
A população erguia preces ao Senhor, rogando que parasse com o
dilúvio. Um dia Procópio abriu a janela e foi levado pelas águas.
Ia exclamando:
— Sublime!
Agora é que sinto realmente a beleza do bom tempo integral! O azul é
de Sèvres! Chove ouro líquido! Sou feliz!
Os
outros, que não acreditavam nisto, submergiram, mas Procópio foi
depositado na crista de um pico mais alto que o da Neblina, onde faz
sol para sempre. Merecia.
Carlos
Drummond de Andrade, in Contos plausíveis
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