quarta-feira, 5 de junho de 2019

Miguel de Unamuno

Os livros que amo são aqueles que se tornam meus companheiros vida afora. É o caso do livro Do sentimento trágico da vida, de Miguel de Unamuno. Lembrei-me dele, tirei-o da estante, passei os olhos. É uma brochura vagabunda, papel jornal, está todo desmilinguido, cheio de anotações. Fiquei feliz ao devorar de novo pedaços daquele homem que nunca vi, que já morreu. Quero repartir com vocês algumas das coisas que ele disse. “Pelo que me diz respeito, jamais de bom grado me entregarei, nem outorgarei a minha confiança a um condutor de povos que não esteja penetrado da ideia de que, ao conduzir um povo, conduz homens, homens de carne e osso, homens que nascem, sofrem e, ainda que não queiram morrer, morrem; homens que são fins em si mesmos e não meios...” “Não existe um só que, chegando a distinguir o verdadeiro do falso, não prefira a mentira que ele encontrou à verdade que um outro descobriu.” “A ciência é um cemitério de ideias mortas, ainda que delas saia a vida. Também os vermes se alimentam de cadáveres. Os meus próprios pensamentos, uma vez arrancados das suas raízes no coração, transportados para esse papel, são já cadáveres de pensamentos.” “Podemos ter um grande talento e sermos estúpidos de sentimentos e moralmente imbecis.”
Rubem Alves, in Ostra feliz não faz pérola

Nenhum comentário:

Postar um comentário