terça-feira, 21 de maio de 2019

Vazio da saudade

A saudade é flor que só floresce na ausência. É nela que se dizem as orações suplicando dos deuses a graça da repetição da beleza. E é só para isso que existem os deuses: para garantir o retorno do belo.
O que meu coração deseja não é navegar para o futuro. O futuro é o desconhecido. E por mais que eu dê asas à minha imaginação não consigo amar o que não conheço. Pode ser que ali se encontrem as coisas mais maravilhosas – mas, como eu nunca as tive, não posso amá-las. Não sinto saudades delas. A saudade é um buraco na alma que se abriu quando um pedaço nos foi arrancado. No buraco da saudade mora a memória daquilo que amamos, tivemos e perdemos: presença de uma ausência.
Rubem Alves, in Do universo à jabuticaba

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