sexta-feira, 5 de abril de 2019

O absoluto no instante

Somente pode-se anular o tempo vivendo o instante integralmente, abandonando-se aos seus charmes. Alcança-se assim o eterno presente: o sentimento da presença eterna das coisas. O tempo, o devir - tudo isto, a partir de então, torna-se indiferente. O eterno presente é existência, pois somente nesta experiência radical, a vida adquire evidência e positividade. Preso à sucessão dos instantes, o presente é produção do ser, ultrapassagem do nada. Felizes aqueles que podem viver no instante, provar o presente sem faltas, preocupados somente com a beatitude do momento e com o êxtase que oferece a presença integral das coisas... Ainda, o amor não atinge o absoluto do instante? Não ultrapassa a temporalidade? Aqueles que não amam num abandono espontâneo são freados pela sua tristeza e angústia, mas também por sua incapacidade de superar a temporalidade. Não é hora de declarar guerra ao tempo, nosso maior inimigo?
Emil Cioran, in Nos cumes do desespero

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