Somente
pode-se anular o tempo vivendo o instante integralmente,
abandonando-se aos seus charmes. Alcança-se assim o eterno
presente: o sentimento da presença eterna das coisas. O tempo, o
devir - tudo isto, a partir de então, torna-se indiferente. O eterno
presente é existência, pois somente nesta experiência
radical, a vida adquire evidência e positividade. Preso à sucessão
dos instantes, o presente é produção do ser, ultrapassagem do
nada. Felizes aqueles que podem viver no instante, provar o presente
sem faltas, preocupados somente com a beatitude do momento e com o
êxtase que oferece a presença integral das coisas... Ainda, o amor
não atinge o absoluto do instante? Não ultrapassa a temporalidade?
Aqueles que não amam num abandono espontâneo são freados pela sua
tristeza e angústia, mas também por sua incapacidade de superar a
temporalidade. Não é hora de declarar guerra ao tempo, nosso maior
inimigo?
Emil
Cioran, in Nos cumes do desespero
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