Queixamo-nos
de que vivemos na ignorância, incapazes de entender a relação
entre todos os fatos da existência e, em particular, a relação
entre nossa existência particular e o todo da existência. Não
apenas a vida é curta, mas nosso conhecimento dela é drasticamente
limitado. Não conseguimos olhar para trás e ver aquém do nosso
nascimento ou olhar para a frente e ver além da morte. Nossa
consciência é uma centelha passageira no meio da noite. É como se
algum demônio maligno tivesse limitado nossa capacidade de saber, de
modo a poder se regozijar com nossa inquietação.
Essa
queixa, porém, é injustificada. Baseia-se na ideia errônea de que
o mundo foi criado por um intelecto e, por conseguinte,
existiu como imagem mental (ou representação) antes de se
tornar real. De acordo com essa visão equivocada, o mundo derivou do
conhecimento, sendo, dessa forma, acessível ao conhecimento —
capaz de ser por ele analisado e totalmente compreendido. Mas a
verdade é que aquilo de que nos queixamos não saber não é do
conhecimento de ninguém ou de qualquer coisa e é, em si,
absolutamente incognoscível. É, na realidade, inconcebível.
Schopenhauer,
in Parerga et paralipomena
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