terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Sabedoria

A velhice deu a Barthes a coragem para dizer aquilo que ele sempre soubera: que os saberes, frequentemente, são as sepulturas da sabedoria. Sabedoria não é aquilo que se obtém pela adição de saberes. O sábio que escreveu o Tao-Te-Ching , há séculos, já tinha percebido isso: “Os que têm saber não são sábios; os que são sábios não têm saber”. As universidades estão cheias de eruditos tolos. Por outro lado, conheço pessoas sem diploma que são sábias.
A diferença entre elas?
As pessoas que têm saberes, cientistas e similares, têm conhecimento do mundo e têm poder para agir sobre ele, porque saber é poder . São muito importantes. Para se cozinhar é preciso que exista a ciência dos fogos, dos utensílios, dos ingredientes, das panelas.
Os conhecimentos nos dão meios para viver.
A sabedoria nos dá razões para viver. Sábias são as pessoas que sabem viver. Tolo é aquele que, tendo defendido tese sobre barcos e mapas, não sonha com horizontes, não planeja viagens, não imagina portos. Anda sempre em terra firme por medo de naufrágio.
Os programas de escola por que nossas crianças e adolescentes têm de passar são cadeias de saberes. Mas onde se encontra a sabedoria? Ausente. Sabedoria não é saber científico. Não cai no vestibular. Ela não pode ser avaliada em testes de múltipla escolha.
Rubem Alves, in Variações sobre o prazer

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