inventaram
um amor eterno. trouxeram-no em braços para o meio das pessoas e ali
ficou, à espera que lhe falassem. mas ninguém entendeu a
necessidade de sedução. pouco a pouco, as pessoas voltaram a casa
convictas de que seria falso alarme, e o amor eterno tombou no chão.
não estava desesperado, nada do que é eterno tem pressa, estava só
surpreso. um dia, do outro lado da vida, trouxeram um animal de
duzentos metros e mil bocas e, por ocupar muito espaço, o amor
eterno deslizou para fora da praça. ficou muito discreto, algo sujo.
foi como um louco o viu e acreditou nas suas intenções. carregou-o
para dentro do seu coração, fugindo no exato momento em que o
animal de duzentos metros e mil bocas se preparava para o devorar.
Valter
Hugo
Mãe,
in Contabilidade
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