Enquanto eu fiquei
aqui a noite toda relembrando minha chegada que está por acontecer
daqui a pouco, por volta do meio-dia, no meio da praça, Karina era
só calada.
Cá, muito entre
nós, desconfio que ela tenha, lá com ela, alguma sombra de medo de
que eu não chegue, o que seria um fiasco, desta vez ainda pior do
que o primeiro. Disse ela que não.
Disse também que
estava ocupada demais, quando vieram lhe chamar pra festa, e mandou
dizer que não ia, não, que não havia de sair de casa só pra
presenciar minha chegada, ainda mais com um sol quente desses, e que
se fosse parar seu serviço pra ficar vendo invenção minha, não
faria outra coisa na vida.
Concluiu dizendo
que não era o Antônio de antes que ela queria ver, mas o de agora,
ficou olhando bem pra mim, assim, com esse seu olhar ao meio, me deu
meia dúzia de beijos e foi lá pra dentro se desculpando que tinha
mais o que fazer.
De vez em quando
passa aqui na minha frente, assim como quem não quer nada, querendo,
talvez, elogio. Queria eu que todo querer seu fosse fácil desse
jeito.
Por aí não se
fala de outra coisa, mais um pouco ele vai chegar e haja festa no
meio do mundo pra receber Antônio.
Daqui até o outro
lado da Terra há de se ouvir os pipocos dos fogos.
Está em cima da
hora.
E como cada palavra
é sempre a última palavra, antes da próxima, e as próximas
palavras é o tempo que vai dizer daqui pra frente, eu, Antônio de
dona Nazaré, de Karina, ou de Nordestina, vou ficando por aqui
mesmo.
Mais não posso
contar, em parte porque só sei contar até aqui, em parte porque
tenho que ir ali sossegar o coração de Karina, já vai bater
meio-dia e esse Antônio que não chega?
Calma, Karina.
É justo que chegue
um pouco atrasado, pois lá de onde Antônio vem é longe que só a
gota.
Adriana Falcão,
in A máquina
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