Cap. I — Dois
seres, trazidos todo o modo a um bosque, descobrem que,
imemorialmente, se amam. Mas o irromper do amor coincide com a
necessária separação. Sozinho o Narrador, sua alegria é mesmo
assim imensa: vê-se transmudado; a esperança se convida com o
sentido senso da eternidade (O Narrador tenta, em repetidos
ímpetos, narrar o inarrável).
E o ar. Eu estava
ainda só, tudo estava só, ai-de-quem, ali, naquele incongruir, na
interseção de estradas, multiversante eu — soez, Joãpáulino,
tediota — nos brejos do Styx. Apenas o que se imiscui em infusos
antros e inigmais idades. (Mas, eu, vinham-me.). Minha vida:
margens. ( Deus não estuda história. Deus expede seus anjos por
todas as partes.) Vínhamos, nós dois, sem saber que vivíamos,
vínhamos — do jamais para os sempre.
Entrem-se portas
Absolutas.
— Às asas! às
asas! — sussurra-se, no tumulto cessante. Éramos o dia era lindo,
fazia muita manhã — inadvertida cascata — e a súbita flor
sete-pétalas: ALEGRIA. (Suas joias lágrimas, tempo nenhum, uma
ordem rejuvenescida, o tranquilo uso do amor .) Destino? —
...pilotado nesse
rio
por anjos e leis e
alegrias
(Soubesse-o? Ou
eu não cantasse:)
Lá do céu caiu um
cravo
cai uma rosa
também:
quem não ama e tem
saudades
está à espera
de alguém, como
o não nascido quer
o ar, ainda não respirado. Como a pedra, de asas inutilmente
ansiosa. Como os cães elevam os ouvidos. Como o temer, sozinho, ver.
Como o não saber.
Abro a paisagem.
Entra agosto em
repouso, mesmo os ventos. Em nosso jardim há florestas e pausas. Só
pulava o sabiá: só solilóquios. Às antes árvores, as plantas a
abrolhar, os movimentos da alegria em hastes, os comedidos pássaros.
Quando tudo era falante...
(O tema do anjo:
...
o Anjo (chegou e
falou) nem fechou
as asas. Olhei:
o Anjo não punha os pés no chão.
Um anjo vem
sempre é do fundo da cena.)
À Amada: (—
“Para que encurtar conversa?”). Foi um minuto: os relógios
todos do mundo trabalhavam. Vejo-te, meu íntimo é solúvel em ti.
Andam alvuras. (Ah, ela era bela, e minhalma se lembrou de Deus.)
Amo-te (— “Meu amor...”) de repente, e me separo de um
milhão de coisas. Uno-me. Eu, enfim, era eu, indispersado. A amada.
O mundo o mundo o mundo.
o mar, que sob os
ventos, vaga a vaga,
vem de thule, de
ys, do bojador...
Anjo novo. Nós
—
e um som cheio de
avencas penduradas,
restituindo-me:
menino.
na casa do amor
tudo era fraqueza.
Minha mãe
brincando com bonecas me teve.
Olhos de me
marejar.
só a fixação de
repentina música.
Anjo novo.
(não só ouvir e
ver, senão audir e contemplar. Te!)
E, pois,
librando-se arcangelicamente, a alma almíssima, quando
a água
de mil côncavos,
mil seios,
te envolve,
feliz, e contudo
toda penetrante
— Não mais
ausente.
Todavia:
...e a vida são
sempre outros rumos / que não os nossos. E o último abraço. (Um
anjo só sente o amor como as árvores o orvalho?) O guarda,
anticarcereiro, e sua invista — ficta — espada, não flamante.
Vais-te. Todavia. Tenho sede, tenho fome: isto é, tenho o meu
ser. Todavida. Tudo tive, tenho! Ao milagre. O Dom. O píncaro
nevado: o — para sempre — cintilante : o cimo. Eis-me amor. Há
tanto, há quando? anos? — doze mil, milhões, imensidões e
mais... (E és: Vega — soberba estrela azul, a alvíssima)...
fios mansos de mar... (De outra substância, outra alma e carne, de
que nenhuma.) Anjo novo. Amor é algo,
mais-perspicaz-que-o-mundo-e-inteiro — súbito decorridamente —
através de quem nós:
o sempre: o cimo !
...“no meio do
caminho” desta vida.
Guimarães
Rosa, in Ave,
palavra
Nenhum comentário:
Postar um comentário