sábado, 23 de junho de 2018

Celebração do riso

José Luis Castro, o carpinteiro do bairro, tem muito boas mãos. A madeira, que se sabe amada por ele, deixa-se moldar.
O pai de José Luis chegara ao rio da Prata vindo de uma aldeia de Pontevedra. O filho recorda o pai, o rosto inflamado sob o chapéu panamá, a gravata de seda no colarinho do pijama azul-celeste, e sempre, sempre a contar histórias divertidas. Onde ele estava, recorda o filho, o riso acontecia. Vinham de toda a parte para se rirem, quando ele contava contos, e o gentio amontoava-se. Nos velórios, era necessário levantar o caixão, para que todos coubessem - e assim o morto ficava de pé, para ouvir com o devido respeito aquelas coisas ditas com tanta graça.
E de tudo o que José Luis aprendeu com o pai, isto foi o principal:
Importante é rirmo-nos — ensinou-lhe o velho. — E rirmo-nos juntos.
Eduardo Galeano, in O livro dos abraços

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