Nada
podia estar mais afastado um negócio do outro do que Nordestina do
mundo.
Juntar
os dois era serviço mais difícil do que dissolver a terra inteira
no mar, misturando bem misturado, não importando nem o tamanho da
colher de pau nem a habilidade da criatura que se prestasse a
executar tarefa tão ingrata.
Era
assim que Antônio se sentia.
Como
alguém que tivesse em sua frente um único pão e milhares de
morta-fomes em sua volta, ô solução complicadinha essa, só mesmo
Cristo, e, mesmo ele, só fazendo milagre.
Naquele
andar do pensamento o galo cantou e Antônio não teve outra
alternativa a não ser inaugurar o dia, muito embora não tivesse a
mínima ideia do que fazer com o mesmo devido ao estado de agonia em
que se encontrava.
Abriu
a porta do quarto que dava pra sala e a janela da sala que dava pra
rua, olhou bem pra cara de Nordestina e pensou: “Tás duvidando?”
E
Nordestina bem que deve ter duvidado, mas não respondeu nada, pois
as cidades, por menores que fossem, não serviam pra responder nada a
seu ninguém, muito menos pra duvidar de coisa nenhuma. A serventia
das cidades era somente ser o lugar onde seus habitantes habitavam, e
triste da cidade que não conseguisse dar conta de sua única
finalidade.
Antônio
tinha certeza que ia cumprir sua promessa, primeiro porque era homem
de palavra, segundo porque era homem de atitude, terceiro porque era
homem suficiente pra atender a todo e qualquer desejo de Karina.
Já
estava acostumado.
Ora,
se tinha prometido trazer o mundo pra ela, a primeira coisa que tinha
que fazer era ir lá buscá-lo.
Buscar
é uma coisa, trazer é outra, mas isso era só um detalhe.
Podia
pensar no caminho.
E
lá se foi ele.
No
caminho da ida foi pensando no da volta.
Pra
convencer o mundo todo a segui-lo primeiro tinha que achar um jeito
de todo mundo olhar pra ele, eita finalidade difícil, pra que o
mundo ia olhar pra um cidadão feito Antônio?
Honesto,
mas sem a menor importância.
Decente,
mas sem a menor distinção.
Um
cabra que não tinha nem paletó, apesar de valente.
Inteligente,
mas nem finalizou o grupo escolar.
Só
se ele parasse na frente de todo mundo, pessoa por pessoa, “Tás
vendo eu, pessoa?”, infelizmente aí não ia dar tempo.
Ou
então se ele arrumasse um lugar só pra onde todas as pessoas
olhassem na mesma hora e ficasse lá parado.
Parado,
não, que ninguém quer saber de ver ninguém parado.
Fazendo
a coisa mais desencabida que alguém jamais pensou em fazer na vista
do povo.
Mas
o quê?
Adriana
Falcão,
in A máquina
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