Quando
a bondade se mostra abertamente já não é bondade, embora possa
ainda ser útil como caridade organizada ou como ato de
solidariedade. Daí: “Não dês as tuas esmolas diante dos homens,
para seres visto por eles”. A bondade só pode existir quando não
é percebida, nem mesmo por aquele que a faz; quem quer que se veja a
si mesmo no ato de fazer uma boa obra deixa de ser bom; será, no
máximo, um membro útil da sociedade ou zeloso membro de uma igreja.
Daí: “Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão
direita.”
(...)
O amor à sabedoria e o amor à bondade, que se resolvem nas
atividades de filosofar e de praticar boas ações, têm em comum o
fato de que cessam imediatamente - cancelam-se, por assim dizer -
sempre que se presume que o homem pode ser sábio ou ser bom. Sempre
houve tentativas de dar vida ao que jamais pode sobreviver ao momento
fugaz do próprio ato, e todas elas levaram ao absurdo.
Hannah
Arendt, in A condição humana
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