Já
com o tempo melhor, iniciou-se a arada da primavera. O galpão em que
Bola-de-Neve desenhara seus planos para o moinho de vento foi
trancado e os desenhos provavelmente apagados. Todos os domingos, às
dez horas, os animais reuniam-se no grande celeiro para receber as
ordens da semana. A caveira do velho Major, já sem carnes, fora
desenterrada e colocada sobre um toco ao pé do mastro, junto à
espingarda. Após o hasteamento da bandeira, os animais deviam
desfilar reverentemente perante a caveira, antes de entrar no
celeiro. Já não sentavam todos juntos, como antes. Napoleão,
Garganta e outro porco chamado Mínimo, dono de notável talento para
compor canções e poemas, aboletavam-se sobre a parte fronteira da
plataforma, os nove cachorros em semicírculo ao redor deles e os
outros porcos atrás. O restante dos animais ficava de frente para
eles, no chão do celeiro. Napoleão lia as ordens da semana num
áspero estilo militar e, após cantarem uma única vez Bichos da
Inglaterra, os animais se dispersavam.
No
terceiro domingo após a expulsão de Bola-de-Neve, os bichos ficaram
um tanto surpresos ao ouvirem Napoleão anunciar que o moinho de
vento seria, afinal de contas, construído. Não deu qualquer
explicação sobre o motivo que o fizera mudar de ideia, apenas
alertando os animais de que essa tarefa extraordinária significaria
trabalho muito duro, podendo até ser necessário reduzir as rações.
Os planos, entretanto, haviam, sido elaborados até o último
detalhe. Uma comissão especial de porcos trabalhara neles durante as
três últimas semanas. A construção do moinho de vento, com vários
outros melhoramentos, deveria levar dois anos.
Naquela
tarde, Garganta explicou aos outros bichos, em particular, que
Napoleão nunca for a contra a construção do moinho de vento. Pelo
contrário, ele é que advogara a idéia desde o início, e o plano
que Bola-de-Neve havia desenhado no assoalho do galpão das
incubadoras fora, na realidade, roubado de entre os papéis de
Napoleão. O moinho de vento, era, em verdade, criação do próprio
Napoleão.
— Por
que, então — perguntou alguém — ele tanto falou contra o
moinho?
Garganta
olhou, manhoso.
— Aí
é que estava a esperteza do Camarada Napoleão — disse. — Ele
fingira ser contra o moinho de vento, apenas como manobra para
livrar-se de Bola-de-Neve, que era um péssimo caráter e uma
influência perniciosa. Agora que Bola-de-Neve saíra do caminho, o
plano podia prosseguir sem sua interferência. Isso era uma coisa
chamada tática.
Repetiu
inúmeras vezes “Tática, camaradas, tática!”, saltando à roda
e sacudindo o rabicho com um riso jovial. Os bichos não estavam
muito certos do significado da palavra, mas Garganta falava tão
persuasivamente e os três cachorros — que por coincidência
estavam com ele — rosnavam tão ameaçadoramente, que aceitaram a
explicação sem mais perguntas.
George
Orwell, in A revolução dos bichos
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