É
uma ameaça popular dizer que alguém pagará o mal feito com um
palmo de língua, ou
com a língua de fora.
Mestre
João Ribeiro (Frases feitas, II, 63) explicou que “o pagar
com a língua de palmo era o mesmo que pagar com a forca e aludia-se
ao já esquecido mísero gesto dos enforcados”. Creio que a origem
é outra.
Encontrei
no Elucidário, de Viterbo (I, 261), sobre os Descridos,
infiéis, blasfemos, arrenegados. Informa Viterbo: “Em 1315 mandou
El-Rei D. Diniz, que quem quer que descreer de Deos, e de sua Madre,
ou os doestar, que lhe tirem as lengoas pelos pescoços, e que os
queimem. El-Rei D. Afonso V estabeleceo que todo aquele que
sanhudamente renegar de Deos, ou de Santa Maria: se for Fidalgo,
Cavaleiro ou Vassalo, pague por cada vez mil reis para a arca da
piedade (dos cativos): e se for peão, dem-lhe vinte açoites no
Pelourinho, em quanto o assi açoitarem, metam-lhe pela lengoa uma
agulha de albardeiro, a qual tenha assi na lengoa ataa que os açoites
sejam acabados”.
O
albardeiro era o fabricante de albardas e usava de uma agulha longa e
grossa. Em qualquer dos castigos, o paciente teria o palmo de
língua estendido fora da boca. Atravessada por uma agulha, não
a poderia recolher. E o suplício era mais vivo a quem desejasse o
castigo, pois se referia aos incrédulos e heréticos, homens de
falsa fé, como julgaria ter-se portado o merecedor da imagem atroz.
Essa
tortura jamais fora aplicada no Brasil, mas a lembrança popular não
a olvidou para os perjuros e traidores da amizade.
Luís
da Câmara Cascudo, in Coisas que o povo diz
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