Sofia
Opalski tem muitos anos, ninguém sabe quantos, ninguém sabe se ela
sabe. Tem apenas uma perna, anda em cadeira de rodas. As duas estão
bem gastas, ela e a cadeira de rodas. A cadeira tem parafusos
frouxos, e ela também.
Quando
ela cai, ou quando cai a cadeira, Sofia chega, do jeito que der, até
o telefone e disca o único número do qual se lembra. E pergunta, lá
do fim do tempo:
– Quem
sou eu?
Muito
longe de Sofia, em outro país, está Lucia Herrera, que tem três ou
quatro anos de vida. Lucia pergunta, lá do princípio do tempo:
– O
que quero eu?
Eduardo
Galeano, in
Mulheres
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