[Quando
no aeroporto me deram a notícia de que havia ganhado o prêmio
Nobel] senti, por um lado, uma enorme felicidade, uma enorme alegria,
mas me dei conta de que a alegria, se se está sozinho, é nada.
Quando
abandonei a sala de embarque em direção à saída, encontrei uma
espécie de recolhimento e uma serenidade estranhíssima. Tive de
percorrer um corredor imenso, completamente deserto. E, então eu, o
prêmio Nobel, o pobre senhor que ali ia completamente sozinho,
levando a sua mala na mão e a sua gabardina debaixo do braço,
dizendo: “Pois parece que sou o prêmio Nobel”, e ali a solidão
daquele corredor imenso. Não me senti no pináculo do mundo, pelo
contrário. Senti-me sozinho com muita pena que a minha mulher [Pilar
del Río] não estivesse comigo.
José
Saramago, in As
palavras de Saramago
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