quarta-feira, 8 de novembro de 2017

O cachimbo


Depois que Stubb saiu, Ahab ficou debruçado sobre a amurada por algum tempo; depois, como havia se tornado costume, chamou um marinheiro da vigília e mandou-o buscar lá embaixo seu banco de marfim e também seu cachimbo. Acendendo o cachimbo à luz da lâmpada da bitácula e colocando o banco a barlavento no convés, sentou-se a fumar.
No tempo dos antigos Nórdicos, os tronos dos reis Dinamarqueses, amantes do mar, reza a tradição, eram feitos com a presa do narval. Como podia uma pessoa olhar para Ahab sentado em um tripé de ossos, sem pensar na realeza que simbolizava? Pois um Khan do tombadilho, um rei do mar e um grande senhor dos Leviatãs era Ahab.
Alguns momentos se passaram, durante os quais uma fumaça densa era exalada por sua boca, com baforadas rápidas e constantes, que cobriam seu rosto. “Por que razão”, disse em solilóquio por fim, tirando o cachimbo da boca, “fumar já não me acalma? Ah, meu cachimbo! Será difícil para mim se os teus encantos se perderam! Estive me esforçando inconscientemente, sem prazer – sim, fumando o tempo todo contra o vento sem o saber; contra o vento e com tragadas tão nervosas como se, como uma baleia moribunda, meus jatos finais fossem os mais fortes e dolorosos. O que é que tenho em comum com este cachimbo? Esta coisa é feita para a serenidade, para enviar uma suave fumaça branca para suaves cabelos brancos, e não para cachos despedaçados da cor do ferro, como os meus. Não fumarei mais…”
Jogou o cachimbo ainda aceso no mar. O fogo sibilou nas ondas; no mesmo instante o navio passou pela bolha na qual o cachimbo tinha afundado. Com o chapéu caído de lado, cambaleando, Ahab caminhou pelo tombadilho.
Herman Melville, in Moby Dick

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