Por
que se gosta de um autor? Gosta-se de um autor quando, ao lê-lo,
tem-se a experiência de comunhão. Arte é isso: comunicar aos
outros nossa identidade íntima com eles. Ao lê-lo eu me leio,
melhor me entendo. Somos do mesmo sangue, companheiros no mesmo
mundo. Não importa que o autor já tenha morrido há séculos...
Inversamente, quando não gosto de um autor, é porque não há
comunhão. É como se ele fosse uma comida estranha que causa
repulsa. Essa é a razão por que gosto tanto de Nietzsche. Foi amor
à primeira vista. O que ele diz ilumina o meu ser. E há nele um
sentimento doloroso: o sentimento de exílio. “Em cada chegada eu
sou uma partida”, ele disse. É comum entre os escritores esse
sentimento de estranheza no mundo. Drummond via isso na Cecília e
dizia que esse era um dos seus traços marcantes. Sinto o mesmo. Se
os que creem na reencarnação estão certos, então está tudo
explicado. Nasci neste tempo, mas minha alma ficou num lugar do
passado que eu muito amei.
Rubem
Alves, in Ostra feliz não faz pérola
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