Quantas vezes você já ouviu que nossa
língua é a mais complicada que existe? Bobagem. O português é uma
das línguas mais fáceis do mundo, isso sim.
Claro que depende do ponto de vista:
aprender sueco, por exemplo, é moleza para quem fala dinamarquês.
Mas um ranking elaborado pelo Departamento de Estado dos Estados
Unidos (do ponto de vista dos falantes de inglês, portanto) situa
nossa língua no grupo um, o dos idiomas acessíveis em que se pode
ficar fluente com até seiscentas horas de estudo. Na mesma categoria
estão francês, italiano e espanhol. No extremo oposto, o grupo
quatro, o tempo de ralação sobe para 2200 horas. Ali estão árabe,
mandarim, coreano e japonês.
Quanto à mania brasileira de achar que o
português é mais difícil que engenharia espacial, é como diria um
velho professor rabugento:
— Português não é difícil, você é
que estudou pouco!
De onde tiraram isso?
Baseada provavelmente na dor de cabeça
real que acomete estrangeiros diante da arquitetura barroca de nossos
verbos, a afirmação dispensa a necessidade de prova. O sujeito erra
o gênero da palavra alface e pronto, lá vem a desculpa universal:
— Também, como é difícil a porcaria
dessa língua! Ah, se tivéssemos sido colonizados pelos holandeses!
Isso não quer dizer que o queixoso saiba
holandês. É na imensa parcela monoglota da população que a crença
na dificuldade insuperável do português encontra solo mais fértil.
Não é uma conclusão a que se chegue depois de estudar latim,
alemão, húngaro, russo e japonês. Ninguém precisa ter encarado
uma declinação — vespeiro do qual a gramática portuguesa nos
poupou — para deplorar o desafio invencível da crase.
O mito das agruras superlativas do
português diz muito sobre a falência educacional brasileira.
Sérgio Rodrigues, in Viva a
língua brasileira!
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