terça-feira, 5 de setembro de 2017

Navegador

Desenhei um oceano
para ser calmo, claro e plano.
Ele começou a se insubordinar:
inventou um movimento
só pra molhar meu bom comportamento.
Tive que me acostumar às ondulações.
Outra de suas diversões
foi me fazer mergulhar
sempre mais fundo,
na intenção de me ver esfolar
no lodo que atapeta o chão do mundo.
Com o tempo,
perdeu o senso de todo,
encalpelou, cresceu,
engoliu o castelo de areia que era meu.
Como rebelião,
reforço o nó de marinheiro
e conduzo meu veleiro
ávido, contra a correnteza.
O oceano vai com certeza se irritar
e querer derrubar a embarcação.
Em vão, pois dessa vez ele perde.
Aprendi a nadar o suficiente
para emergir no exato lugar
onde a terra se faz quente,
onde o mar é verde.
Flora Figueiredo

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