O juízo moral tal
como o juízo religioso baseia-se em realidades que não o são. A
moral é unicamente uma interpretação de certos fenômenos, dito de
forma mais precisa, uma interpretação falsa. O juízo moral, da
mesma forma que o religioso, corresponde a um grau de ignorância ao
qual ainda falta o conceito do real, a distinção entre o real e o
imaginário: de tal forma que, a esse nível, a palavra “verdade”
designa simplesmente coisas a que nós hoje chamamos “imaginações”.
O juízo moral, por conseguinte, não deve ser tomado nunca à letra:
porque tal constituiria unicamente um contra-senso. Porém enquanto
semiótica, não deixa de ser inestimável: revela, pelo menos para o
entendido, as realidades mais valiosas das culturas e dos espíritos
que não sabiam o bastante para se “compreenderem” a si mesmos. A
moral é meramente um falar por sinais, meramente uma sintomatologia:
há que saber já de que se trata para obtermos proveito dela.
Friedrich
Nietzsche, in
Crepúsculo dos Ídolos
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