Às
vezes, digo que fazer um romance é o mesmo que fazer uma cadeira: a
cadeira tem que ter quatro pés, tem que estar equilibrada, a pessoa
tem que se sentar na cadeira e estar confortável, há uma estrutura
e as coisas têm que estar apoiadas umas nas outras para que a
cadeira não caia. E, por outro lado, se a cadeira, além de
funcionar, de responder à necessidade que se tem, na hora de se
sentar, de que ela seja sólida, puder carregar uma estética, puder
ser bonita, bem desenhada, pois aí, sim… Mas tudo precisa de ser
sólido, e o romance tem, do meu ponto de vista, que ter uma
estrutura em que o leitor não diga “pois aqui falta algo” ou que
se alongou excessivamente. Todas são partes de um todo que tem que
funcionar de uma forma, no fundo, equilibrada. Talvez possa parecer
surpreendente que eu diga que escrever um romance é o mesmo que
fazer uma cadeira, mas isso só significa o respeito ao trabalho
bem-feito: pode ser um romance ou pode ser uma cadeira, e quem diz
uma cadeira pode dizer muitíssimas outras coisas.
José
Saramago, in As palavras de Saramago
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