Os
olhos com que observo a realidade não excluem nenhum elemento dela e
a poesia é um dos elementos que integram. Há sempre um olhar que
suscita a centelha poética da realidade. Todas as maneiras de ver,
de olhar, são maneiras pessoais. Como escrevo em estado de
liberdade, nunca coloco um filtro entre o que quero contar e o modo
como vai ser dito. Quando escrevo, estou aberto a tudo o que surge
nesse momento. Uma coisa é o que está para ser escrito e outra é o
que no momento de escrever vejo, ouço e sinto. Posso, afinal, dizer
que se trata de uma maneira pouco cerebral de escrever, o que está
em aberta contradição com o que a crítica tem dito dos meus
livros. Se há cerebralização, conduz a uma linguagem poeticamente
muito mais rica do que essa denominação dá a entender.
José
Saramago, in As palavras de Saramago
Nenhum comentário:
Postar um comentário