“Esperei
trinta anos pelo seu regresso, Susana. Esperei até eu ter tudo. Não
somente alguma coisa, mas tudo que se pudesse conseguir de maneira
que não nos sobrasse nenhum desejo, só o seu, o desejo por você.
Quantas vezes convidei seu pai para tornar a morar aqui, dizendo que
precisava dele? Fiz isso até com mentiras.
“Ofereci
nomeá-lo administrador, com tal de tomar a ver você. E o que foi
que ele me respondeu? ‘Não tem resposta’ me dizia sempre o
leva-e-traz recados. ‘O senhor dom Bartolomé rasga as suas cartas,
assim que eu as entrego.’ Mas pelo leva-e-traz fiquei sabendo que
você tinha casado e logo fiquei sabendo que você tinha ficado viúva
e estava outra vez fazendo companhia ao seu pai.
“Depois,
o silêncio.
“O
leva-e-traz ia e vinha e sempre voltava me dizendo:
“—
Não os encontro, dom Pedro. Disseram
para mim que saíram de Mascote. E uns me dizem que para cá, e
outros, que para lá.
“E
eu:
“—
Não repare em gastos, vá atrás deles,
procure. Nem que a terra tenha engolido os dois.
“Até
que um dia veio e me disse:
“—
Vasculhei a serra inteira indagando qual
o canto em que dom Bartolomé San Juan se esconde, até que dei com
ele, lá, perdido num buraco nas montanhas, vivendo numa cova feita
de troncos, no mesmo lugar onde estão as minas abandonadas da La
Andromeda.
“Já
naquela época sopravam ventos raros. Dizia-se por aí que havia
gente rebelada e com armas. Os rumores nos chegavam. Foi isso que
trouxe o seu pai por aqui. Não por ele, segundo me disse em sua
carta, e sim pela sua segurança, queria trazer você de volta à
vida entre os vivos.
“Senti
que o céu se abria. Tive vontade de correr até você. De rodear
você de alegria. De chorar. E chorei, Susana, quando soube que você
enfim iria voltar.”
Juan
Rulfo, in Pedro Páramo
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