“Navegava
Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a
Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali
andava roubando pescadores, repreendeu-o muito Alexandre por andar em
tão mau ofício; porém ele, que não era medroso nem lerdo,
respondeu assim: Basta,
senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós,
porque roubais em uma armada, sois imperador?
Assim é. O roubar pouco é culpa, o roubar muito é grandeza: o
roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os
Alexandres... O ladrão que furta para comer, não vai nem leva ao
inferno: os que não só vão, mas que levam, de que eu trato, são
os outros – ladrões de maior calibre e de mais alta esfera... Os
outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os
outros furtam debaixo de seu risco, estes, sem temor nem perigo; os
outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam.”
Padre
Antônio Vieira,
in
Sermão
do bom ladrão
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