Existem
apenas três modelos de interpretação do fenômeno literário
realmente consistentes – na minha opinião. Faço essa coda
autorreferencial porque sempre há alguém que dirá: “esta é a
tua opinião”. Sim, tudo é uma questão de opinião. A
objetividade absoluta, além de uma impossibilidade, é uma falácia.
Durante
muito tempo, talvez desde Platão e Aristóteles, a disputa
ideológica sobre o texto literário teve duas fortes correntes: a
que o via como retrato da realidade social; e a outra, que o
examinava como sucessão de sistemas estético-formais sem relação
com a história e a sociedade. A sociologia clássica carimbava o
primeiro de “esquerdista”, e o segundo de “direitista”.
Rótulos – é verdade –, mas sem os rótulos acabamos bebendo
vodca por vinho branco.
Na
década de 1960, surgiu, na Alemanha, o que chamamos, em português,
de estética da recepção, que é a terceira via de interpretação
teórica da literatura. Não percebeu o primeiro tradutor, e talvez
nem o teórico, que Rezeptionästhetik é uma redundância. Se
“estética” vem do grego, e vem, que lá significava “sensação”,
o sintagma “estética-da-recepção” é tautológico, pois só se
pode “receber” o que se “sente”. Enfim, firulas etimológicas,
boas para amantes de palavras-cruzadas.
Para
Hans Robert Jauss, criador da estética da recepção, “qualquer
obra de arte literária só será afetiva, só será re-criada ou
‘concretizada’, quando o leitor a legitimar como tal, relegando
para plano secundário o trabalho do autor e o próprio texto criado.
Para isso, é necessário descobrir qual o ‘horizonte de
expectativas’ que envolve essa obra, pois todos os leitores
investem certas expectativas nos textos que leem em virtude de
estarem condicionados por outras leituras já realizadas”.
Ou
seja, para Jauss, quem dá sentido ao texto é o leitor, e não o
crítico. E o que realmente importa não é a obra em si, mas a
relação que o leitor estabelece com a obra.
Charles
Kiefer, in Para ser escritor
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