Dizia
Samuel Johnson que o patriotismo é o último refúgio dos canalhas.
É bem verdade que ele referia-se, inicialmente, ao partido a que se
filiara, por conter a palavra “patriota” na sua denominação.
Assim
como os partidos do Brasil põem nos seus nomes as palavras
“democrata”, “socialdemocrata”, “trabalhadores ou
trabalhista”, “humanista”, “municipalista”, “cristão”,
“popular”, etc. Tudo prostituição semântica.
Pegam
a semântica, abrem-lhe as pernas, na cama, e praticam a cópula,
para depois gestar a cúpula. A semântica escapa pela janela e o
povo cria o rebento.
Pois
bem. O pensador referia-se a seu partido, mas ele próprio aceitou,
sem contestação, o emprego da sua máxima para referir-se
genericamente à hipocrisia do patriotismo.
No
Brasil, e é dele que tenho o dever de cuidar nas minhas reflexões,
só há uma categoria profissional que merece a denominação de
patriotismo fora da canalhice.
São
os professores primários. Das antigas escolas isoladas, dos colégios
estaduais e municipais; dos grotões do Sertão aos bairros pobres
das cidades. Só.
O
resto é mesclado. Dos poderes às profissões diversas, em todas as
áreas, das corporações às castas. Divididos em patrioteiros,
patrifaceiros, patrimagogos, patrifajutos, patrilofotes,
patrivangélicos, patricatólicos, patriforenses, patriparentes e até
patriotas de mesmo.
Tudo
posto e exposto numa vasta estante de exibição luminosa, tão clara
que dá pra ver por trás da maquiagem.
E
se o patriotismo é mesmo o refúgio da canalhice, o Brasil não é o
país da legalidade. É o país do legalismo, que é a canalhice do
sistema político da pátria viciada.
Quer
ver um exemplo? Mesmo reconhecendo que a exemplificação empobrece o
raciocínio abstrato, pondo a filosofia na reserva, não resisto e
exemplifico.
O
sistema “legal” brasileiro de licitação. Que serve aos
holofotes do legalismo, às espertezas dos concorrentes e ao
mecanismo de escamotear a legalidade.
Vá
à Praia do Meio. No quase frontal do antigo Hotel dos Reis Magos há
uma placa enorme, com a especificação dos custos da obra que tenta
conter a força do mar. Veja o custo: Oito milhões, quinhentos e
setenta mil, novecentos e dez reais e oitenta e cinco centavos. (R$
8. 570. 910, 85).
Pergunto:
Se você fizer uma reforma no banheiro de sua casa, que dure uma
semana, terá condições de dizer com precisão quanto vai gastar?
Assim: vou gastar precisamente 1.425,00 reais. Pode garantir isso?
Não pode. Mesmo sem os centavos.
Imagine
garantir os centavos numa obra de oito milhões. Sem previsão de
tempo. E são assim todas as obras públicas licitadas. Pra
satisfação do controle de faz de conta, e da cavilação legalista.
É
esse o país da ordem vigente. Legalista e fora da Lei. Legalismo não
é sinônimo de legalidade. É antônimo. Té mais.
François
Silvestre, in blogs.portalnoar.com/francoissilvestre
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