sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Mendigo

Acho que já escrevi sobre isso por aqui. Sobre deixar as pessoas irem embora sem dó. Sem olhar pra trás. É necessário. caramba. A vida é assim mesmo. Os filmes já reproduziram cenas do tipo milhões de vezes. Uma hora alguém vai bater a porta e sair de nossas vidas pra sempre. Ela não terá dó. Vai jogar os momentos que julgamos intimamente lindos no ralo da pia e você ficará se remexendo no sofá como um gordo com cólica renal. E não adianta escrever para tentar apaziguar. Foi uma escolha. Temos que nos contentar com as lembranças fora de hora e a vontade de ligar ou mandar uma mensagem boba como “oi, tá tudo bem por aí? Almoçou o quê? tem ido ao cinema? Tá feliz?” assim mesmo. Ficamos chatos. Incapazes de sermos engraçados ou contar uma piada. Ficamos fodidos por dentro feito uma cidadezinha devastada por um tornado, mas faz parte da lei. Passei a madrugada pensando no sorriso dela, mas da última vez que nos encontramos ela disse “não se iluda comigo. Não tenho nada a oferecer”. Entendi a crueldade dela. Temos que ser cruéis com pessoas que não nos servem mais. Faço isso com escritores e livros. Deixo de lê-los. Já fiz isso com garotas que choraram e diziam gostar de mim pra valer. Alguns abraços não se encaixam no nosso e temos que abrir as gaiolas para os pássaros beijar o céu e construir seus ninhos. Acontece que estamos sempre juntando os destroços e tentando seguir em frente. Acho que quem ama tem um pouco de mendigo. Tem um pouco de catador de papel e alumínio que bota tudo na carroça e vende por doses de pinga. Vai arder por um tempo. Depois sara. Assopra essa ferida com literatura, Urso.
Diego Moraes, in ursocongelado.tumblr.com

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