Pesquisador
português organiza e edita os manuscritos do teórico Pierre
Hourcade sobre a obra de Fernando Pessoa
Pessoa,
o poeta inapreensível da inquietação e da dor
A
pátria de Fernando
Pessoa
não era apenas a língua portuguesa. Aos 42 anos, o poeta via
expandir em traduções a obra que assinara com o próprio nome ou
com 105 outros, seus heterônimos. Duas décadas mais jovem, o
professor Pierre Hourcade, responsável por verter pela primeira vez
seus versos em português e inglês a uma língua estrangeira, o
francês, desejava conhecer o poeta pessoalmente. Em fevereiro de
1930, encontraram-se no Café Martinho da Arcada, em Lisboa.
Pessoa
animou-se. Os dois tinham muito em comum. Houcarde via Portugal como
uma terra propícia ao suicídio dos poetas, que ali poriam fim à
vida não por suas ideias, mas pela ausência delas. E Pessoa
escrevera em Tabacaria, sob a alcunha Álvaro de Campos:
“Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse
nada”. Os dois trocaram livros, ideias e informações. Concordaram
sobre a pequenez do mundo onde viviam. Nascia uma grande amizade.
Hourcade
entendeu-o resignado enquanto homem, ousado enquanto poeta. A bem
dizer, um gênio poético. “Deixa muito para trás os nossos
pálidos e secos teóricos de vanguarda”, escreveu na revista
parisiense Contacts ao relatar esse encontro, quatro meses
depois. O poeta se disse lisonjeado com os artigos do autor francês
em torno de sua obra. “Gostava de ter em Lisboa um Pierre Hourcade
com quem conversar”, escreveu a João Gaspar Simões, um amigo que
seria seu primeiro biógrafo.
Em
uma ocasião, Pessoa confessou que lhe agradaria ver o jovem
professor contratado pela Faculdade de Letras de Lisboa. O desejo
concretizou-se entre outubro de 1933 e dezembro de 1934, período em
que o francês atuou na instituição. Os encontros entre os dois
tornaram-se frequentes. Mas, no ano seguinte, o Brasil se interpôs
entre eles. Junto a Roger Bastide e Claude Lévi-Strauss, Hourcade
integraria a equipe pioneira de docentes da Universidade de São
Paulo. Embora se dissesse contente pela “formidável notícia”,
Pessoa lamentou o vazio que a ausência do amigo deixaria nele e em
todos os que o conheceram.
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